segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O primeiro contato médico-paciente

              
         O que um paciente quer de um médico? A resposta varia de pessoa para pessoa: uns querem atenção, outros querem competência, resolução, respeito, ética, honestidade, acolhimento, cuidado - de preferência todos estes itens. Alguns acham importante que o médico seja rápido e preciso, existem aqueles que preferem uma atenção mais demorada. Talvez haja pacientes que demandem luxo e mimos, do mesmo modo que indivíduos podem gostar mais de simplicidade e austeridade. Contudo, penso que todos querem que o médico veja o paciente como único, como um caso diferente de todos os outros, com suas particularidades e necessidades específicas, e não apenas como mais um.

         O pedido de um exame de imagem deve ser apenas uma das etapas, caso necessário para que possamos caracterizar em que o paciente é diferente de todos os outros já vistos e estudados, um processo que começa desde o primeiríssimo contato, seja já o vendo distante caminhando em sua direção, seja ouvindo a voz pelo telefone, escutando seus passos no corredor, ou até mesmo sentindo o cheiro do seu quarto antes de enxerga-lo.

         Colhemos informações nos mínimos detalhes, no nome, sexo, idade, naturalidade, nacionalidade. Estes dados que as pessoas preenchem diariamente em diferentes ocasiões de nosso cotidiano fornecem dados importantes para formar um arcabouço sobre o qual acrescentamos muitas outras coisas para formarmos nossas hipóteses e decidirmos condutas.

         Você se conhece desde o primeiro dia de sua vida e muitas informações que perguntamos são tão óbvias e redundantes que pode ser chato fornecer aos outros, mas felizmente precisamos perguntar. Digo felizmente porque mesmo que já soubéssemos as respostas dessas perguntas tão entediantes, o modo como o paciente responde, as palavras que ele usa, o linguajar que utiliza somam impressões ao nosso raciocínio.

         Quem sabe determinado paciente preferisse que um médico fosse um Sherlock Holmes e que conseguisse saber sobre sua vida inteira antes mesmo que sentasse na cadeira do consultório. Isso não acontece e duvido que realmente esse paciente desejasse isso, pois significaria que o médico detetive saberia de outras coisas mais secretas também. Essa é sempre uma das nossas preocupações, o paciente tem direito a sua privacidade e devemos perceber quando a estamos invadindo injustificadamente.

No entanto, embora não sejamos o mais famoso detetive da ficção, nossos trabalhos tem semelhanças, cheios de mistérios, prendendo toda nossa atenção até a solução do caso. Quanto mais pistas boas, mais perto de desvendar o problema. Algumas vezes elas enganam e levam ao erro, em outras, uma única pode resolver tudo. Montamos um quebra-cabeça mental onde os dados que parecem formar uma figura coerente são valorizados e aquelas que destoam são descartadas ou deixadas guardadas para uma posterior revisão.

         Do mesmo modo que o paciente quer que o médico o exergue como único, tentamos fazer o mesmo com todas as queixas que são apresentadas, por isso os médicos insistem em perguntas estranhas: como é sua dor?

Muitos entendem que queremos saber se eles estão sofrendo mesmo e respondem “Minha dor é doída, doutor. É dor de verdade!”.

Não duvidamos (na maioria das vezes). Apenas tentamos entender. Durante os primeiros anos de faculdade, somos instruídos e treinados a destrinchar simples queixas. Aprendemos que até as mais básicas sensações podem ser classificadas em diferentes tipos.

Para o médico uma dor em queimação é tanta dor quanto qualquer outro tipo de dor, mas saber que a dor é em cólica nos ajuda a pensar que ela é originada num órgão que contrai como intestino, útero e vesícula biliar. Uma dor de cabeça pulsátil é uma das características que podem nos ajudar a diferenciar da dor de cabeça em salva.

Sem esse detalhamento, uma parte importante do trabalho médico fica limitado.

Portanto fica o meu primeiro desabafo: sejam pacientes com os médicos que ainda não o conhecem e respondam às suas perguntas. “Minha dor é dor”, “sinto isso faz um tempão”, “o problema é que me sinto muito mal” podem não ajudar muito o seu profissional a lhe ajudar.

Lembrem-se: o paciente fornece as pistas mais importantes para o detetive-médico desvendar o caso.

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