O
que um paciente quer de um médico? A resposta varia de pessoa para pessoa: uns
querem atenção, outros querem competência, resolução, respeito, ética, honestidade,
acolhimento, cuidado - de preferência todos estes itens. Alguns acham importante
que o médico seja rápido e preciso, existem aqueles que preferem uma atenção
mais demorada. Talvez haja pacientes que demandem luxo e mimos, do mesmo modo
que indivíduos podem gostar mais de simplicidade e austeridade. Contudo, penso
que todos querem que o médico veja o paciente como único, como um caso
diferente de todos os outros, com suas particularidades e necessidades específicas,
e não apenas como mais um.
O
pedido de um exame de imagem deve ser apenas uma das etapas, caso necessário
para que possamos caracterizar em que o paciente é diferente de todos os outros
já vistos e estudados, um processo que começa desde o primeiríssimo contato,
seja já o vendo distante caminhando em sua direção, seja ouvindo a voz pelo
telefone, escutando seus passos no corredor, ou até mesmo sentindo o cheiro do
seu quarto antes de enxerga-lo.
Colhemos
informações nos mínimos detalhes, no nome, sexo, idade, naturalidade,
nacionalidade. Estes dados que as pessoas preenchem diariamente em diferentes
ocasiões de nosso cotidiano fornecem dados importantes para formar um arcabouço
sobre o qual acrescentamos muitas outras coisas para formarmos nossas hipóteses
e decidirmos condutas.
Você
se conhece desde o primeiro dia de sua vida e muitas informações que
perguntamos são tão óbvias e redundantes que pode ser chato fornecer aos
outros, mas felizmente precisamos perguntar. Digo felizmente porque mesmo que
já soubéssemos as respostas dessas perguntas tão entediantes, o modo como o
paciente responde, as palavras que ele usa, o linguajar que utiliza somam
impressões ao nosso raciocínio.
Quem
sabe determinado paciente preferisse que um médico fosse um Sherlock Holmes e
que conseguisse saber sobre sua vida inteira antes mesmo que sentasse na cadeira
do consultório. Isso não acontece e duvido que realmente esse paciente desejasse
isso, pois significaria que o médico detetive saberia de outras coisas mais
secretas também. Essa é sempre uma das nossas preocupações, o paciente tem
direito a sua privacidade e devemos perceber quando a estamos invadindo
injustificadamente.
No entanto, embora não sejamos o mais famoso
detetive da ficção, nossos trabalhos tem semelhanças, cheios de mistérios, prendendo
toda nossa atenção até a solução do caso. Quanto mais pistas boas, mais perto
de desvendar o problema. Algumas vezes elas enganam e levam ao erro, em outras,
uma única pode resolver tudo. Montamos um quebra-cabeça mental onde os dados
que parecem formar uma figura coerente são valorizados e aquelas que destoam
são descartadas ou deixadas guardadas para uma posterior revisão.
Do mesmo modo que o
paciente quer que o médico o exergue como único, tentamos fazer o mesmo com
todas as queixas que são apresentadas, por isso os médicos insistem em
perguntas estranhas: como é sua dor?
Muitos entendem que queremos saber se eles estão sofrendo
mesmo e respondem “Minha dor é doída, doutor. É dor de verdade!”.
Não duvidamos (na maioria das vezes). Apenas
tentamos entender. Durante os primeiros anos de faculdade, somos instruídos e
treinados a destrinchar simples queixas. Aprendemos que até as mais básicas
sensações podem ser classificadas em diferentes tipos.
Para o médico uma dor em queimação é tanta dor
quanto qualquer outro tipo de dor, mas saber que a dor é em cólica nos ajuda a
pensar que ela é originada num órgão que contrai como intestino, útero e
vesícula biliar. Uma dor de cabeça pulsátil é uma das características que podem
nos ajudar a diferenciar da dor de cabeça em salva.
Sem esse detalhamento, uma parte importante do
trabalho médico fica limitado.
Portanto fica o meu primeiro desabafo: sejam
pacientes com os médicos que ainda não o conhecem e respondam às suas
perguntas. “Minha dor é dor”, “sinto isso faz um tempão”, “o problema é que me
sinto muito mal” podem não ajudar muito o seu profissional a lhe ajudar.
Lembrem-se: o paciente fornece as pistas mais importantes para o detetive-médico desvendar o caso.
Lembrem-se: o paciente fornece as pistas mais importantes para o detetive-médico desvendar o caso.
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