domingo, 21 de agosto de 2011

Uma pessoa sem doenças pode ter algum exame alterado?

               Para responder essa pergunta devemos primeiro saber o que é normal. Existem muitas definições diferentes de normal, porém acho que é importante conhecer o conceito de normal segunda a curva de Gauss  ou normal. As pessoas são diferentes entre si, o que é uma constatação óbvia, mas significa que elas terão características com diferentes medidas, sendo todas elas consideradas normais. A altura é um ótimo exemplo disso. Como determinar o que é normal, quando passa a ser baixa estatura ou acima do normal? Precisamos definir isso para podermos diagnosticar doenças e propor tratamentos. O mesmo serve para peso, comprimento dos membros, número de batimentos cardíacos, frequência respiratória, temperatura, pressão arterial, etc.
 Geralmente essas medidas se distribuem segundo a curva normal, onde a maior parte das pessoas tem suas medidas ao redor de um certo número e quanto mais distante dele, menos pessoas apresentarão este valor. Para definirmos o normal, determinamos os “valores de referência” ou “pontos de corte”. Isso é considerado avaliando-se  grandes quantidades de dosagens em pessoas jovens e saudáveis. Depois é medido o valor médio e os limites superiores e inferiores pelo cálculo de dois desvios padrões abaixo e acima da média. Por pura e simples definição, somente 95% das pessoas normais apresentarão exames com valores normais; 2,5% estarão abaixo do normal e 2,5% estarão acima. Essas são os 5% falsamente anormais.
                Lembre-se dos conceitos de sensibilidade e especificidade. Se diminuirmos ou aumentarmos as notas de cortes aceitas nos exames, vamos mudar a chance de confirmarmos ou excluirmos uma doença. Contudo isso deve ser feito caso o normal mude conforme idade, sexo, etnia, populações, horário do dia, métodos de realização do exame e outros fatores inter-relacionados.
                Nesta postagem vamos nos concentrar no conceito de normal como 95% da população saudável. Esse jovem hígido pode apresentar exame alterado sem doença alguma?  Por definição, 5% dos resultados são falso positivos. Se forem realizados seis exames sem relação uns com outros ( um RX de tórax e Tomografia Computadorizada de tórax, por exemplo, não valem, pois estão relacionados), pode se esperar de pelo menos 26,5% de faso-positivos (1 menos (0,95 elevado a sexta potência = 1 – 0,735). Caso sejam realizados 12 exames não relacionados, teremos 46% de falso positivo em pessoas normais.
                Notem, isso não tem nada a ver com má fé, falta de preparo do profissional, técnica incorreta de realização do exame, ou de qualquer outro fator que pode deixá-lo revoltado e com muita vontade de processar alguém. Neste caso terá de processar a própria medicina e a variabilidade biológica ou a você mesmo por ser um ser humano.
                Além disso, podem ocorrer erros pré-laboratoriais como preparo inadequado (quantos pacientes não aparecem todos os dias com o jejum inadequado para realizar o exame), uso de medicamentos que interfiram nos resultados; identificação errada do material; e coleta insatisfatória, como quando  a  urina é coletada cotaminada.
                Erros intralaboratoriais tem a frequencia estimada em 3,65% e considerada como ótima se menor que 1%,  mas como ditos, são estimativas, portanto não aceitas, pelo que sei, num tribunal.
                Pode ocorrer erro pós-laboratorial quando registrado erroneamente no prontuário ou se acessado incorretamente no computador, internet ou outros.
                Ninguém gosta, mas todos esses erros acontecem e duvido que um dia deixem de ocorrer. Só não se depara com isso quem nunca vai ao médico e nunca faz um exame.
                Todos esses fatores somados aos conceitos das postagens anteriores como sensibilidade, especificidade, valor preditivo postitivo e negativo dos exames influenciam enormemente nos resultados e na cofiabilidade dos exames. Fazer um diagnótico é como montar um quebra-cabeças, se uma peça servir para completar o desenho, fica valendo, senão deve ser revisado ou descartado.
                Portanto alguém normal pode ter um exame alterado, sim. Por isso, cuidado quando você quiser que um médico peça um exame simplesmente porque quer e acha bonito. Excesso de informação confunde. Médico bom é aquele que pede todos os exames mais modernos que existem? Não. É aquele que avalia corretamente o paciente e suas queixas e pede, se necessário, os exames mais adequados àquele caso. Não fosse isso, o médico seria uma lista de exames para serem solicidados. Um computador seria mais eficiente, aliás. Coloque  sua queixa num retângulo e no outro sai qual exame você deve fazer. Seria ótimo, não é?  Não funciona assim e duvido que isso aconteça durante minha vida.
                No próxima postagem discutirei os exames de rastreamento e os exames de rotina. São diferentes?
Desabafo de hoje:  exames só quando o médico achar necessário.

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